segunda-feira, 21 de maio de 2012

Documentário: Nós que aqui estamos por vós esperamos


O documentário “Nós que aqui estamos por vós esperamos” tem 73 minutos de duração, foi feito por Marcelo Mazagão em 1998 aqui no Brasil, sendo exibido em 1999. Ele foi criado a partir de cenas de filmes antigos, fotos e filmagens de acontecimentos reais, contendo pessoas anônimas e personalidades que construíram a história do século XX. A edição é surpreendente, as imagens mais antigas em preto e branco e as demais coloridas levam o telespectador a vivenciar um pouco do que é apresentado, além de algumas frases que antecedem as cenas, nenhuma palavra é proferida, os efeitos sonoros de André Abujamra e Win Mertens conduzem toda a narrativa ilustrada.

Durante o filme surgem imagens de cemitério, no final aparece a frase na entrada dele, o título do documentário “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. Muito intrigante e sem dúvida, uma boa sacada para a história ali contada, porquanto o século XX foi marcado por muitos acontecimentos que levaram a morte de diversas pessoas que tinham uma história de vida, tinham sonhos e família. Afinal, como aparece no filme as imagens da 1ª Guerra e a história da família Jones, com a frase de Cristian Boltanski: “ Em uma guerra não se matam milhares de pessoas, mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias”.

Os que ali nas imagens aparecem, esperavam por nós. Hoje enterrados, serão para sempre lembrados devido a herança que nos deixou (seus feitos, criação, alegrias, tristezas, conquistas e fracassos). Sem dúvida, nós que aqui estamos (construindo a história), esperamos outros, que virão, “Nunca dominaremos completamente a natureza e o nosso organismo corporal, ele mesmo parte desta natureza, permanecerá sempre como uma estrutura passageira, com limitada capacidade de realização e adaptação”. Dr. Freud.

Uma relação de vida e morte, evolução e revolução, as mudanças ocorridas durante o século XX mostradas de uma forma marcante traz reflexões sobre a humanidade, seus ideais, suas conquistas, suas perdas, o ser humano evidenciado como egoísta e ambicioso, contrastando seu lado criativo, forte e determinado. O século que teve como personalidades Hitler, Mussolini, Stalin, Pol Port, Franco, Pinochet, Médici, Mao Tsé Tung, entre outros, Garrincha, Fred Astaire, além de homens e mulheres que não tiveram seu nome impresso nos livros de história, mas construíram ela. O homem é o agente transformador do mundo. Ele tem o poder de construir e destruir, através de suas ações podem ser evidenciados seus objetivos, uma paranoia, afinal, “Os homens criam as ferramentas, as ferramentas recriam os homens”. Mc Luhan

Criação e morte, essas são as palavras, o século XX foi marcado pela indústria bélica, avanços tecnológicos, científicos e inovação na comunicação, após o invento do telefone, imagem (Kodak), do rádio, da eletricidade e da psicanálise e a revolução na indústria automobilísticas com a produção em massa (Ford T). Trabalhadores que montam carros, tendo uma dura jornada de trabalho, mas não possuem o que produzem. O desemprego decorrente da quebra da bolsa de Nova York, acompanhado da fome e da miséria dos trabalhadores, pais de famílias, onde até mesmo os portadores de diplomas perderam os seus devidos valores. O homem passa a ser objeto de um mundo capitalista.

As destruições, bomba atômica, guerras, a crise econômica nos Estados Unidos, a revolução cultural na china que foi muito violenta, as extradições na serra Pelada aqui no Brasil, a queda do muro de Berlim, mostra como o homem sempre em suas mudanças vai se recriando e se adaptando a sua realidade, não se restringe somente a uma retrospectiva, mas também a busca incessante dos sonhos e ideais dos seres humanos. Cita intelectuais, cientistas e escritores que tiveram suas obras destruídas em praças públicas.

Relata a conquista das mulher no mercado de trabalho (nas indústrias bélicas, de cigarro tecnologias) com o lema “We can do it” em vários lugares do mundo, bem como sua igualdade com os homens, se envolvendo na política e nas artes. Passam a fumar, beber e a se vestir com mais liberdade, uso de menores biquínis e minissaia.

A liberdade religiosa e o esquecimento de Deus por muitos. Cena forte do monge budista Tashi Lungton que em protesto contra a Guerra no Vietnã ateia fogo no corpo e queima até morrer. Um contraste entre a paz e o amor, bem representado por Gandhi, e a crueldade, como o ocorrido na Alemanha Nazista. Jovem chinês que enfrentou tanques, pessoas que se lançaram sobre um punhado de arroz lançado no solo da Etiópia, os homens na Serra Pelada em busca de ouro. Estes e tantos outros fatos que marcaram o século XX traz uma reflexão sobre o indivíduo, este ser único inserido em uma coletividade e que muda a si mesmo e ao mundo à sua volta o tempo todo. O que é a vida? Qual valor é dado a ela? Se somos seres transformadores, de qual lado e de que forma seremos lembrados?


Um comentário:

  1. Assisti este filme há uns dois anos, é emocionante, gostei da forma como foi comentado, me fez relebrar. Abraço. Débora dos Anjos (A Cinderela), rsrsr.

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